SOBRE O DELÍRIO DE ROMANTIZAR O ENVELHECIMENTO

Resumo

Envelhecer é ao mesmo tempo, conhecer o paraíso e o inferno. No paraíso nos lambuzamos nas bençãos da vitória de termos chegado aos 60, 80, 100 anos, afinal, tantos ficaram para trás. No inferno, vivemos as pungentes dores físicas em qualquer parte da carcaça que enrugada, teimamos em passar cremes faciais testados com perversidade em cães da raça beagle, sob o argumento de que estes são mais dóceis. E essa é a dor que mais dói, do desrespeito à vida, do achincalhamento que a mídia faz com sua estética feia de homens tipo barbies-dependentes e de mulheres ficcionais, caricatas, botoxizadas, siliconizadas. Provas cabais de que essa geração que se anuncia terá uma enorme ressaca, pois não suportarão o bafo quente e mal-cheiroso do envelhecimento. Esses não terão tempo e cabeça para vinte anos de análise lacaniana para tentar algum nível de centralidade em suas precárias existências. Idosos, pelo simples fato de viverem mais tempo consumindo, são poluidores por excelência e deixam uma enorme pegada de carbono na atmosfera do planeta, isso é um desafio para os mais jovens, despoluir o planeta. A genial e mercadológica saída para esse cenário, é a óbvia romantização da velhice. Um engodo para desviar o foco do ônus de envelhecer, para o indivíduo e para o planeta. Idosos não precisam ser alvos mercadológicos, precisam apenas de respeito, por suas vidas, com acertos e erros. É sobre isso que tentarei expor minha percepção, afinal, vivo esse processo de envelhecimento, e agora me anunciaram que daqui há seis anos, de repente, numa manhã de abril, acordarei idoso.